Vi esta semana uma reportagem que mostrava o Hospital do Coração (se não me engano) que estava contratando dentistas para participarem das cirurgias, visando minimizar ou eliminar os riscos de infecção que poderiam ocorrer pela boca. Exames são feitos para verificar a chance de ter problemas devido a saúde bucal.
Ao olhos de muitos isso é uma coisa boa, afinal, estão mais preocupados com a nossa saúde, estão diminuindo os riscos. Isso sem dúvida é verdade, no entanto será que isso é algo tão bom assim?
Aos que podem pensar que estou ficando maluco, questionando uma preocupação com a saúde, digo que vejo esta preocupação como um sintoma de uma paranóia que está tomando conta da nossa sociedade. Vivemos em uma sociedade onde os riscos estão pirando as pessoas, fazendo-as tomar decisões e deixando de viver.
Com relação ao dentista, pergunto: "Qual o risco de um paciente ter algum problema devido à saúde bucal?". Que ele existe, não discuto, mas qual é este índice? Deve ser um índice pequeno (pois se fosse grande certamente isso já teria visto há muito tempo), e será que isso torna necessário tal ação? Pense na relação custo-benefício? Quanto que teremos que pagar a mais para ter um dentista disponível em cada cirurgia, sendo que sua ação seria importante em poucos casos? O governo certamente aumentaria os gastos com saúde, e os planos de saúde cobrarão mais caros. Será que este risco exige tal ação?
E será que depois disso, não aparecerá outra estatística dizendo que um índice dos pacientes tem problemas decorrentes de unha encravada, e então precisará de um profissional para resolver este problema também? E se aparecer outra estatística dizendo de um índice de pacientes com problemas decorrentes de câncer de pele? Isso é uma bola de neve, não tem fim. A cada risco percebido irão querer colocar mais e mais travas, diminuir os riscos a todo e qualquer custo. Mas e se eu não quiser pagar este custo, e se eu quiser simplesmente ser operado? Por que eu não teria esta opção?
Vamos a outros exemplos. Antigamente as crianças - eu incluso - brincávamos de bicicleta sem capacete, tornozeleira, cotoveleira e mais um monte de apetrechos 'vitais' atualmente. Brincávamos em parques de diversão que não precisavam ser inspecionados a cada n meses pelos órgãos competentes. Se tinha brinquedo com algum defeito então a gente não brincava ou simplesmente arrumávamos outro modo de brincar. Infelizmente esse tempo morreu. Agora as crianças precisam quase ficar dentro de plástico bolha para não correrem risco de de cortarem, esfolarem os joelhos, ganhar um galo. A cada risco existente ações são tomadas para evitar a possibilidade dele ocorrer.
Se a comida não for tratada com alta higiene, com luvas, toucas, pias desinfetadas com produtos específicos então corremos riscos de termos problemas. Engraçado, nossos pais e avós não tinham este risco? Que eu saiba antigamente nem existiam tais recursos.
Comer ovos, frituras, gordura, coisa proibida. Os riscos disso para nossa saúde são altos.
Viver é se arriscar, ser livre é arriscar, se não arrisca, está prisioneiro.
Quero o direito de comer, quero brincar, quero andar descalço, quero subir em árvores, quero tomar chuva, quero ser somente operado.
E se por acaso algum dos riscos que EU resolvi correr ocorrer, ao menos saberei que EU vivi, que EU fui feliz, que EU pude fazer o que ME deixava bem.
Já escrevi um texto sobre isso, e o que estão fazendo na Inglaterra por causa dessa paranóia da segurança.
Vejam "O retorno do mesmo".