“Na cidade de Preterida os habitantes estavam muito descontentes sobre o atual momento em que se encontravam. Por mais que eles se esforçassem as coisas não aconteciam, não se desenrolavam. E com isso eles estavam cada vez mais estagnados, sem nada evoluir.
Os moradores já haviam promovido estudos a respeito do assunto, analisando a sociedade, a educação. Convocaram os maiores pensadores da sociedade para detectar que mal era este os afetava. Em vão. Nem mesmos os mais sábios conseguiam descobrir o motivo. E esta sociedade foi ficando cada vez mais parada, fadada à extinção.
Eis que um belo dia chega à cidade um visitante, que era professor de português. E como todo visitante foi aos pontos turísticos, restaurantes, hotéis, parques, etc. E começou a interagir com os preteridos e preteridas (cidadãos de Preterida).
Assim que ele chegou a um museu e ficou na frente de um belo quadro, o funcionário do museu lhe perguntou:
- O senhor gostaria de informações a respeito do quadro?
E o professor respondeu:
- Eu não gostaria, eu quero informações a respeito do quadro.
Depois ele foi a um restaurante, onde foi atendido pelo garçom.
- O senhor queria pedir algo para comer e beber?
Após analisar o cardápio, ele responde:
- Eu não queria, eu quero uma lasanha e um suco.
E começou a perceber algo de comum com as perguntas.
Então foi a um parque, a fim de aproveitar o final do dia e ler um pouco. Chegando ao parque dirigiu-se até uma banca onde foi abordado pelo vendedor.
- O senhor desejaria uma revista?
E o professor respondeu:
- Eu não desejaria, eu desejo uma sobre a cidade, o senhor tem?
Após este terceiro contato com os cidadãos da cidade ele viu que todos lá usavam os verbos conjugando-os no futuro do pretérito, e isso lhe despertou a curiosidade.
Bom, mas ele continuou andando e encontrou um senhor triste, sentado no banco, cabisbaixo. Tomou a liberdade e perguntou a ele o motivo desta tristeza. Ele disse ser um dos sábios da cidade, que havia sido convocado para tentar descobrir o motivo de a cidade estar estagnada, sem ir para frente. E no meio da fala disse “...eu gostaria de encontrar o motivo....”. Nesse momento o professor o interrompeu e falou:
- Eis o problema!!!! Vocês não querem mais nada. Repare na sua frase. O senhor disse que gostaria de encontrar o motivo. E quem gostaria não gosta mais. Assim como quem queria não quer mais, quem faria não faz mais, e assim por diante. Sempre que vocês usam o verbo deste modo abrem mão de transformar a realidade, pois imediatamente já dizem que não farão mais isso.
O sábio, ouvindo isso ficou pasmo. Como ela não havia percebido isto? Era tão simples e fácil de resolver. Era somente as pessoas expressarem que continuam querendo, que querem que algo ocorra. Com os querias, gostarias e desejarias que pronunciavam nada mais sairia do lugar.
De tão feliz que ficou, disse ao professor:
- Eu gostari....., eu quero lhe agradecer pois sua ajuda foi de vital importância para nosso povo!”
Quantas vezes não conjugamos os verbos neste tempo verbal, mesmo que nossa vontade ainda persista? E por que fazemos isso? Será que não desejamos que nada se modifique? Queremos que fique tudo do modo que está?
Vi uma definição que o futuro do pretérito pode ser usado como um pedido gentil, cortês. Não sei se gramaticalmente este uso é correto ou não, no entanto precisamos pensar se o que dizemos faz com que algo aconteça.
Imaginem a imensa diferença entre as frases “Eu queria ser uma pessoa melhor” e “Eu quero ser uma pessoa melhor”.