Hoje estive em uma oficina mecânica, e lá haviam vários carros suspensos, e os funcionários passando tranquilamente por baixo deles, trabalhando sem a menor preocupação. E quando vi aquilo, fiquei imaginando o estrago que poderia causar caso a máquina desse algum problema. Seria uma vez só.
Mas os funcionários eram tranquilos, possuíam confiança no equipamento, e por isso podiam focar somente no serviço, e não no risco (que certamente existe) de algum acidente, o que torna o serviço certamente melhor, e em menor tempo.
E fiquei pensando em como é bom confiar, nos outros e em si mesmo. Lembrei-me de alguns fatos que já presenciei que demonstra muito bem o poder da confiança e da autoconfiança.
Há alguns anos, o Corinthians entrou em uma onde de derrotas incrível, creio que chegou a 13 derrotas consecutivas, algo difícil até para times muito menores. O elenco não era nada ruim, no entanto não ganhavam. Se chutavam uma bola e batia no travessão, pronto, já desestabilizava o time. Se tomassem um gol, então era a morte, e o time não jogava mais nada. O time estava quase rebaixado, mudou de técnico e o time empatou uma. Opa, já não perderam. Criou-se uma confiança – mínima que seja – que o time não era perdedor, e que tinha capacidade de vencer. E depois o time engrenou, e ganhou várias seguidas, conseguindo se livrar do rebaixamento. E o que mudou, já que os jogadores eram o mesmo, e o campeonato sendo disputado também?
Há um esporte que gosto, e já joguei algumas vezes, que é o vôlei. E aprendi o quão psicológico é este esporte, e o quanto a confiança faz uma enorme diferença. Tenho uma habilidade maior na defesa, e em algumas partidas, quando começava a defender, percebia que passava a defender cada vez mais, ou mesmo que não conseguisse defender, ao menos estava na bola. E enquanto isso os adversários ficavam preocupados, pois as bolas deles não caiam diretamente. Como jogava de modo amador, quando estava na rede era a hora de cortar, e nesse fundamento sempre tive um pouco de dificuldade. Tinha dia que quando ia jogar, começava a acertar a primeira, a segunda, a terceira, daí não parava mais. Acertava bastante, e sem medo de errar. Porém em outros dias errava a primeira, a segunda, a terceira, e depois não mais cortava, passava somente para não errar. Engraçado que continuava sendo eu, a bola era a mesma, os adversários também, os meus fundamentos eram os mesmos, porém eu não mais acertava. Permiti que alguns erros afetassem minha autoconfiança. Com o saque, a mesma coisa, tinha dia que não errava um, e dias que não acertava nenhum.
E tem uma pessoa que vi recentemente numa entrevista que tem uma autoconfiança absurda, talvez proporcional ao seu tamanho e competência: Oscar Schmidt. Lembro-me do jogo mais memorável de basquete que vi na vida, tinha 10 anos, Panamericano de Indianápolis, 1987. Final entre Brasil e os anfitriões, até então imbatíveis. Os americanos na frente, mas não muito. Então o Oscar (e o Marcel) começaram a acertar arremessos, e a provocar os americanos. O Oscar disse que deixava de marcar o adversário descaradamente, o deixava livre e gritava “shot”. E eles não arremessavam, ou quando arremessavam erravam. O Brasil conseguiu com suas cestas acabar com a confiança dos americanos, que “desaprenderam” a jogar bola de uma hora para a outra. Todos os arremessos do Brasil entravam, enquanto que os dos americanos não. Nesse jogo, se fosse possível medir o nível de confiança, certamente teríamos dois recordes, um positivo (Brasil) e outro negativo (americanos).
E esse mesmo Oscar, em uma entrevista recente, disse que precisava somente acertar uma bola de três pontos para acertar 10 seguidas. Arremessou a 1ª, errou. Arremessou a 2ª, errou. Arremessou a 3ª e acertou. E a câmera ligada, sem corte. E o que ele fez? Acertou 10. Dito e feito. Para mim é um exemplo claríssimo de autoconfiança. Certamente o treino ajuda em muito, mas de nada adiantaria se no primeiro erro ele já desistisse ou cresse que não conseguiria.
Pessoas autoconfiantes não são infalíveis, não são sempre as primeiras colocadas em tudo, não acertam sempre, não vencem tudo. Porém não desistem, são persistentes, sabem que possuem o potencial, e isso basta. Fatores externos não as pertubam. Sabem que são competentes, e somente fazem o que sabem. Se não acertaram, sabem que na próxima acertarão. Ou na próxima, próxima…
Que aprendamos a trabalhar nossa autoconfiança, que aprendamos que ela depende somente de nós mesmos, que o que os outros falam ou pensam é problema deles, o que nós pensamos é problema nosso. E como diria Gabriel o Pensador, “só duvidem de quem duvida de você”.