É assim que vejo que nossa sociedade se encontra. Tornamo-nos reféns da culpa e do medo. Podemos ser livres por estarmos fora da cadeia, com emprego, podendo ir e vir para onde queremos, mas internamente temos nos tornados reféns desses dois sentimentos.
Eu não sei quem é que nos ensina isso, mas sei que ensinam muito bem. Nos fazem um processo de lavagem cerebral tão grande ao longo de nossa vida que passamos a crer que o único modo de vida é este, e que qualquer coisa diferente é irreal, que não existe, que é devaneio de malucos.
Sentimo-nos mal em muitas situações. Se não conseguimos o sucesso profissional, se não conseguimos o sucesso nos relacionamentos, se não conseguimos o sucesso nos estudos. E quando me refiro ao sucesso, falo do sucesso idealizado e proferido aos quatro cantos pela mídia. Falam como se só tivesse um tipo de sucesso profissional, sentimental. Você só terá sucesso profissional se virar um grande executivo ou dono de uma grande corporação. Só terá sucesso emocional se encontrar a pessoa perfeita, formando a família perfeita. Só terá sucesso educacional se se formar com louvor e na melhor universidade do país. Qualquer coisa abaixo disso é fracasso, e você deve se sentir culpado por ter sido ineficiente na conquista destes objetivos.
É uma brutal violação dos sentimentos humanos. Nos ensinam que devemos ser perfeitos em tudo, e nos ensinam também que devemos ficar mal caso não consigamos isso. E o que posso afirmar é que jamais alguém conseguirá isso, o que consequentemente gerará pessoas infelizes e culpadas segundo a premissa.
Também nos ensinam a ter medo das coisas. Agora a moda é ter medo da crise econômica, da falta de crédito, do emprego mais escasso. Há um tempo atrás era o medo da hiperinflação, do dólar alto. A cada 4 anos é o medo da troca de comando político.
Se somos jovens, temos que ter medo do futuro, de não passar em uma universidade, depois teremos que ter medo de não conseguir pagar o ensino, depois temos que ter medo de não conseguirmos emprego, depois temos que ter medo de não o perdermos. Depois temos que ter medo com a concorrência com os ‘sem diploma’. Depois temos que ter medo dos profissionais de outros países. É a troca de um medo pelo outro. Parece que temos a obrigação de termos medo. Se não tivermos, não somos seres humanos.
Temos medo da violência, do desemprego, da economia, dos relacionamentos, de ousar, de agir, de tomar decisões. Creio até que chegamos no ponto em que temos medo de ter medo.
Se não dermos um basta nisso, não será possível vivermos. Passaremos nossa vida somente sobrevivendo, não aproveitando a plenitude da vida, os imensos momentos bons, a quantidade exacerbada de coisas boas, de gestos bons, humanos. Precisamos quebrar esta lente que nos colocaram para começarmos a ver o mundo sob outra ótica. Sob a ótima do otimismo, da solidariedade, da confiança, do amor. Precisamos deixar de ouvir os outros, e ouvirmos nós mesmos. Ouvir o que nossa consciência nos fala, seguir os caminhos que nos dá.
Não digo que devemos passar a ser inconsequentes, fazer as coisas sem a menor preocupação com o futuro, suas consequências, mas dizendo que devemos a ver os obstáculos como oportunidade de nos prepararmos para o caso de termos que enfrentá-las.
Se temos receio de como será a aposentadoria, que tal ao invés de ficar preocupado passarmos a fazer uma economia e colocar na poupança, para que tenhamos menor dependência das políticas do governo?
Se temos receio de não encontrarmos um amor, que tal investirmos em nós, nos tornando melhores pessoas, para facilitar isso?
Se temos receito de perder o emprego para os ‘sem diploma’, que tal estudarmos mais, fazermos cursos, sermos mais honestos, íntegros e profissionais?
Basta encararmos de outro modo. E se o que fizermos não der certo, por que ficarmos com sentimento de culpa? Não é melhor olharmos para o ocorrido, analisar as atitudes que tomamos e quais as consequências, e o que poderemos fazer de diferente para que não repitamos o mesmo erro?
E fazer isso não nos livra da responsabilidade sobre os nossos atos, pois isso é algo intrínseco às nossas decisões, mas somente evita de nos paralizarmos, de ficarmos tristes, preocupados por ter afetado outras pessoas, imobilizando-nos perante a repetição do novo desafio ou de novos desafios.
Todos os nossos atos trazem consequência, e consequentemente responsabilidade. Até mesmo o ato de não fazer nada. Isso também é um ato, e também traz consequências. Então que entendamos isso, que percebamos que evitar riscos é um esforço inócuo, e que o melhor é utilizarmos nossas energias em pensar em como acertar, como melhorar, como agirmos sempre de um modo melhor.
Temos uma vida só, e pouco tempo pra aproveitá-la. E utilizarmos nossas energias tentando digerir medos e culpas somente diminuirá nossa vida, mesmo que vivamos uma centena de anos.
E que possamos passar as pessoas mensagens positivas, sem culpas ou medos. E que jamais tolhamos nossas crianças.
4 comentários:
grandes verdades foram expostas neste texto... apenas para exemplificar o tamanho da paranoia geral, conheço pessoas que têm medo de que os outros coloquem "olho gordo" em suas vitórias, por isso nem querem vencer, vê se pode isso? rsrsrs mas, tudo bem, né? enquanto uns se "preocupam", outros se "ocupam" e vivem com paixão e propósito! espero fazer parte deste segundo time sempre!
Querido ! Sou amiga de sua mãe, amiga virtual. Ela é um grande barato, passo a te seguir... Volto aqui neste final de semana ainda para te ler...
Só deixo um sinal de luz e por meio de vc, fico sabendo dela. Já gostei do posto que lí... Mas to de saída, e venho comentar depois. Bj CON
Gostei demais do texto, ele é extremamente lucido, instigador...o problema, no fundo, penso, está em cada pessoa, nas suas metas, nas suas crenças, nos seus propósitos...não consigo perceber para onde vamos, como vamos...mas não gosto do que vejo, assim como vc. Mas, como vc, quero acreditar, manter a esperança...novos tempos devem vir...
É verdade! Devemos ousar e construir a felicidade que vale para nós. O que o mundo quer ou espera é problema dele.
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