Acabei de ver uma reportagem na TV sobre uma lei aprovada na cidade de Vila Velha/ES. A lei garante as pessoas que fizeram cirurgia de redução do estômago paguem meia nos restaurantes a La carte. O argumento de quem propôs a lei foi que não é justo quem comerá menos pagar o valor total. A princípio até parece coerente, mas vejo inúmeros problemas com este tipo de lei.
Quase que nem preciso dizer que o que começará a ter de documentos falsificados alegando que a pessoa fez cirurgia para pagar metade do valor será grande, infelizmente. Outra coisa, o dono do restaurante obrigou a pessoa a ir lá e comprar o produto deles (que no caso é a refeição)? Ou a pessoa foi lá de livre e espontânea vontade? E se foi por vontade, ela estava ciente do produto que estava sendo oferecido lá, e caso discorde disso poderá ir em restaurantes por quilo, onde ela realmente pagará somente o que consumir. E as pessoas que naturalmente comem pouco, por que precisam pagar o valor inteiro? Se o motivo é comer menos, então isso deve ser para todo mundo, não é? Ou é somente para os que pagaram a cirurgia?
Agora vou inverter. Vou concordar com isso, afinal, se a pessoa come pouco, deve pagar menos. Perfeito. Como o justo é pagar pelo que come, então os gordos que forem a restaurantes deverão pagar o dobro, certo? Afinal, comem bem mais do que as pessoas normais. Ah não, isso é preconceito contra os gordos, é crime e dá cadeia. Pois é, se isso não pode, por que o inverso pode?
O argumento de um dono de restaurante foi muito válido. Ele alertou sobre o perigo de se ter essa lei. Amanhã surgirá outro ‘gênio’ e alegará que os portadores de diabetes terão direito a 20% de desconto pois não poderão comer a sobremesa, que os portadores de outra doença poderão ter desconto por não poderem comer gordura, e por aí vai. Imaginem quantas possibilidades teremos?
As pessoas são responsáveis por suas vidas e suas escolhas, e se ela quiser adquirir um produto terá que adquirir tal qual como ele está sendo ofertado, caso contrário ficará uma zona este mundo. Imagino desdobramentos deste pensamento. Uma pessoa que perdeu uma perna, ao comprar um sapato deverá pagar somente a metade, afinal, para que pagar pelos dois? E um surdo que vai ao cinema ver um filme legendado, também deveria pagar menos, afinal, não está aproveitando o som. E uma pessoa sem filhos, ao comprar o carro, deveria ter 50% de desconto, afinal, não precisa dos 4 assentos. E uma pessoa que mora só, poderá ir no mercado e pedir somente metade dos ovos, afinal, não usará todos.
É uma total viagem essa lei, sem o menor nexo. E tem até outro fator econômico. Se o restaurante vende o prato a um determinado preço, este preço foi feito levando-se em consideração o custo para produção. No entanto o custo para produzir metade da comida (caso a pessoa com redução de estômago coma somente 50%) não é metade, pois há muitos custos fixos que não mudam, como o gás / energia para produzir, tempo do funcionário, etc, que isso não é diminuído pela metade.
O problema não está na pessoa comer menos a partir de agora, mas ela se adequar a nova realidade, e aos produtos que estão de acordo com esta realidade. Nem todos os produtos são destinados a todas as pessoas, cada pessoa deve saber das suas características e decidir pelos produtos que estão de acordo. Eu mesmo não costumo ir a restaurantes a La carte justamente porque como pouco, e para mim não faz sentido eu adquirir este produto, e opto por restaurantes self service por estar mais de acordo com o meu perfil. Tirar esta responsabilidade das pessoas é uma tremenda irresponsabilidade.
4 comentários:
Concordo, essa lei é absurda e preconceituosa. O problema é que todo mundo quer levar vantagem, o mesmo se aplica a cota para negros em faculdades.
Boa Noite Carlos.
Primeiramente quero cumprimentá-lo pelo seu blog,poucos são os que como você tem esta preocupação social e responsabilidade com a verdade.
Sinto-me honrado por me linkar,esta parceria chegou para somatizar em qualidade e tenho certeza que os leitores do meu blog vão gostar demais do seu.
Quanto a esta postagem,quando se abre conseções as consequências são drásticas trazendo uma série de problemas futuros.Com tanta coisa importante para se criar e fiscalizar neste país nossos políticos preferem focar em coisas pequenas e populistas afim de ganhar credibilidade.
Eu me pergunto:Quando será que nossa política será levada a sério?
Apesar de todo potencial econômico que temos a mentalidade ainda não é de primeiro mundo,por isto tanto besteirol.
Forte Abraço.
Atualmente no Brasil está ocorrendo uma grande leva de leis absurtas, são quotas para tudo e agora mais essa.
Eu sou operada há pouco mais de dois anos e moro em Vila Velha.
Desde a gastroplastia, deixei de participar de diversos eventos sociais, assim como vários conhecidos e familiares também operados. Esse comportamento é comum entre os gastroplastizados. Sempre que aparece uma comemoração de aniversário, uma reunião de negócios ou confraternização por qualquer motivo, normalmente o operado agradece o convite, mas não vai. Motivo: Custo muito alto para uma capacidade pequena de armazenamento. E se ele for?
Instintivamente, uma de duas coisas acontecem: Ou se tenta ingerir uma quantidade maior que a capacidade real do estômago, provocando desconforto gástrico que normalmente termina em vômito, ou se tem uma terrível sensação de culpa devido ao desperdício provocado pela quantidade de comida que sobra. Situação frustrante em ambos os casos. Estamos em tempo de jogar comida fora? Quantos desfavorecidos passando fome?
Nem sempre é fácil conviver com os dois extremos. Outrora o distúrbio nos fazia comer demais, agora precisamos comer "de menos"... Tudo pela saúde. Mas não é só a saúde física que conta. A saúde mental e o emocional também.
Alguém citou self service. É o que frequentamos todo tempo. Só que ninguém comemora nada em self, concorda?
É sempre em alguma churrascaria ou restaurante à la carte, cujo valor por pessoa, em média, ultrapassa R$ 30,00. Normalmente ficamos de fora. E isso é ruim.
A Lei não impõe nada de absurdo. Apenas adequa o valor à quantidade consumida. Crianças já desfrutam desse benefício há anos. Eu só tenho 20% de estômago. Menor que o estômago de uma criança!!
Eu penso que essa iniciativa além de beneficiar financeiramente, também promove a reintegração social do gastroplastizado. E isso é bom.
Essa ressocialização também interfere positivamente no mercado. Antes, o restaurante deixava de receber o valor integral da maioria dos operados. Eles simplesmente optavam por não ir. Ninguém gosta de se sentir no prejuízo. Agora, cada um deles pode voltar a frequentar tais eventos e os estabelecimentos vão somar os 50% de cada um deles quando anteriormente não somavam nada.
Concordo que nosso município necessita de leis de maior abrangência de beneficiamento, mas não considero essa de menor importância. Atualmente, segundo a Associação Brasileira para o Estudo da Obesidade e da Síndrome Metabólica, estima-se que 25.000 cirurgias Bariátricas são realizadas anualmente. O Brasil detém o 2º lugar no ranking dos países que mais operam no mundo, perdendo apenas para os Estados Unidos.
Em Vila Velha é realizado o maior número de cirurgias do Estado desde 1999. Somos muitos. Mais de 8.000, atualmente. E todos nós agradecemos essa iniciativa.
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