Sobre este blog

Este nome é facilmente interpretado como 'Mundo Idiota', o que não deixa de ser, visto que atualmente vivemos em um mundo do TER e pior, do PARECER TER / SER, enquanto o que devemos valorizar é o SER. Mas o nome tem outro motivo. Uma pessoa que defende sua pátria é chamado de patriota, numa analogia a pessoa que defende o mundo seria o MUNDIOTA.
 

segunda-feira, 26 de novembro de 2007

Quando foi

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Quando foi que passei a não me importar mais com notícias de morte dadas pelos jornais?
Quando foi que passei a me importar mais com a opinião dos outros do que com meus valores?
Quando foi que meus pais deixaram de ser meus ídolos?
Quando foi que passei a idolatrar pessoas da mídia?
Quando que a esperteza tornou-se mais importante do que a honestidade?
Quando foi que eu me permiti ser esperto?
Quando fui solidário pela última vez?
Quando foi que o status tornou-se importante para mim?
Quando foi que passei a procurar os caminhos mais curtos?
Quando foi que passei a acreditar que bebidas e drogas é o caminho para a felicidade?
Quando foi que deixei de ouvir as experiências das pessoas mais velhas?
Quando foi que deixei o trabalho ser mais importante do que minha família?
Quando foi que deixei de dar carinho e atenção à minha mulher e meus filhos?
Quando foi que deixei de me incomodar com os ‘guardadores’ de carros?
Quando foi que achei que briga entre casal é normal?
Quando foi que passei a considerar meu time mais importante que tudo?
Quando foi que trabalhei com paixão pela última vez?
Quando foi que ajudei alguém necessitado?
Quando foi que fiquei feliz com a felicidade alheia?
Quando foi que disse “eu te amo” a todas as pessoas que amo?
Quando foi a última vez que tive minha própria opinião, mesmo com todos contra?
Quando foi que lutei para mudar algo para melhor, mesmo que não eu não seja beneficiado?
Quando foi que contestei algo pela última vez?
Quando foi que me esqueci das minhas raízes?
Quando foi que optei pela ignorância?
Quando foi que achei que filho deve ser educado pela escola?
Quando foi que achei que pais devem ser amigos dos filhos?
Quando foi a burrice tomou conta do poder?
Quando foi que nos calamos?
Quando foi que permiti corromper-me pelo dinheiro?
Quando foi que passei a me contentar somente com o efeito, e não com a causa?
Quando foi que passei a achar desrespeito coisa normal?
Quando foi que passei a achar corrupção algo normal no Brasil?
Quando foi que resolvi seguir a ‘Lei de Gérson’?
Quando foi que troquei o diálogo pela briga?
Quando foi que vulgarizei o corpo?

Quando será que deixaremos de fazer tudo isso?


sábado, 24 de novembro de 2007

A humildade

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Em um rio de difícil travessia, havia um barqueiro que levava as pessoas de um lado para o outro. Em uma das viagens, iam um advogado e uma professora. Como quem gosta de falar muito, o advogado pergunta ao barqueiro:
- Companheiro, você entende de leis?
- Não. Responde o barqueiro.
- E o advogado compadecido:
- É uma pena. Você perdeu a metade da vida!
A professora muito social entra na conversa:
- Seu barqueiro, você sabe ler e escrever?
- Também não. Responde o remador.
- Que pena! - Condói-se a mestra. -
- Você perdeu metade da vida!
Nisso chega uma onda bastante forte e vira o barco. O barqueiro preocupado pergunta:
- Vocês sabem nadar?
- Não! Responderam eles rapidamente.
- Então que pena. - Conclui o barqueiro.
- Vocês perderam toda a vida!

"Não há saber mais ou saber menos: há saberes diferentes." (Paulo Freire)

Pense nisso... e valorize todas as pessoas com as quais tem contato. Não as discrimine se acaso o seu saber for bem superior aos delas. Tal qual nossa história, você poderá equivocar-se!
Portanto adote, exercite, medite e pratique: a humildade!

sexta-feira, 23 de novembro de 2007

Parábola da família

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"Era uma vez uma família pequena, porém muito feliz. Viviam com simplicidade, porém todos da família se curtiam, constituindo, além de uma família de fato, uma família por opção.

As pessoas podiam confiar umas nas outras, contar umas com as outras.

Com o tempo a família passou a crescer, e o casal teve mais filhos, os quais foram crescendo e aprendendo sobre a vida, tanto com os pais quanto com os irmãos e a sociedade.

E no começo desta família, um dos filhos notou que a torneira da área de serviço estava com problema e ficava pingando o tempo todo. Ele, mesmo pequeno e sem a devida formação dos pais, sabia que aquilo, apesar de pequeno, era constante, e em função disso geraria uma despesa muito grande, porém esta seria encoberta pelos outros gastos da água. Certamente ele avisou ao pai, porém o pai (com sua maior sabedoria) alegou que não era hora de resolver aquilo, pois tinham outros problemas para resolver. O filho então ficou quieto, porém ainda preocupado.

Os primeiros filhos foram crescendo e além de fazer os afazeres referentes à sua idade (estudar, ajudar os pais, etc) também gostavam de brincar, andar de bicicleta, jogar futebol, videogame, passear, ler. E por alguns anos essa era a vida desta feliz família. Os filhos adoravam os pais, estavam crescendo, aprendendo responsabilidade e também se socializando, se divertindo, aprendendo por outros meios, conhecendo novas crianças e aprendendo outras formas de se ver as coisas.

Mas como disse inicialmente, esta família foi crescendo. Filhos nasceram e os pais agora tinham vários filhos para cuidar, dar alimento, educação, carinho, atenção, dar duras, ser severo, enfim, as tarefas inerentes de pais responsáveis.

Como havia muitos filhos eles ficaram sem saber o que fazer, pois tinham pouco tempo para fazer tudo o que era necessário, então começaram a conversar com outros pais com situação semelhante para ver como eles resolviam este problema. Após conhecerem a forma que a maioria dos pais utilizava resolveram colocar em prática, sem perguntar aos filhos como eles se sentiriam com isso. Talvez por achar que eles, sendo mais experientes certamente estariam certos, e que crianças não devem ser ouvidas, afinal, são só crianças.

Então começaram as ações. Os pais sabiam que não seria possível conversar com todas as crianças, ver o problema de cada um, então para facilitar o próprio gerenciamento estabeleceram regras.

Era dever de um filho ir ao mercado fazer compras para ajudar aos pais, e eles faziam isso com tranqüilidade. Porém passou a ser de responsabilidade do filho que ia ao mercado fazer a previsão de gastos e pegar este dinheiro com os pais para efetuar a compra. Porém se o valor pego fosse inferior ao valor necessário para trazer a compra que a família necessitava o filho deveria pegar da sua mesada o dinheiro restante, e após retornar do mercado com todas as compras, deveria apresentar aos pais a nota fiscal com tudo o que foi comprado. Os pais, então, livres da responsabilidade de elaborar a lista passaram a verificar tudo o que foi comprado, para ver se os filhos não os estariam enganando comprando uma bala ou coisa assim. Estando tudo certo então eles avisariam o filho que o dinheiro da mesada que o filho utilizou seria devolvido em umas duas semanas, após os pais conseguirem se programar para retirarem o dinheiro do banco para tal ação.

Como eu sou um mero contador da estória desta família não sei como o filho passou a se sentir após esta ação.

Um dos filhos do casal, para ajudar no rendimento da família, passava muitos dias fora de casa vendendo balas, e para isso era necessário pegar condução para chegar até aos clientes. E ele sempre fez isso, buscando sempre o menor custo, pois isso traria a família um rendimento melhor. Os pais, sábios, aprenderam que reduzir custos aumenta o lucro, então vendo que as despesas com a condução eram consideráveis resolveu estipular um valor máximo ao filho, e caso ele passasse desse valor o excedente deveria sair de sua mesada. Isso independente se o filho estava fazendo o máximo de economia no transporte ou não, e também não levando em consideração se um custo maior no transporte não significava um ganho maior nas vendas. Simplesmente haveria um teto, e ponto final.

Como eu sou um mero contador da estória desta família não sei como o filho passou a se sentir após esta ação.

Outro filho, após completar a maioridade passou a fazer serviços para a mãe, sendo responsável por pegar e entregar os itens que a mãe precisava para o seu negócio. Juntamente com esta função ganhou a responsabilidade de cuidar do carro, abastecer, cuidar da manutenção, da conservação, ser prudente para não levar multas, enfim, tudo o que um motorista precisa fazer. Até aí tudo perfeito, pois como responsável que esta pessoa é isso é tudo característica inerente a sua função. Porém um dia ele perguntou para a mãe dele se por acaso ele sofresse um acidente por causa do trabalho, se a sua mãe arcaria com os custos, e qual não foi a sua surpresa ao saber que não, e que nem um seguro para protegê-lo durante o seu exercício a sua mãe pagaria. Se quisesse teria que ser do seu bolso.

Como eu sou um mero contador da estória desta família não sei como o filho passou a se sentir após esta ação.

Enquanto tudo isso ocorria, o filho ainda continuava falando ao pai sobre a torneira pingando. Mas agora a resposta já era diferente. O pai, já altamente instruído, pediu para o filho fazer um levantamento do custo para resolver este problema, verificar o ROI, definir a prioridade e colocar em uma linda planilha para que o pai um dia pudesse analisar isso e então definir quando a ação seria feita. Enquanto isso a torneira pingando....

Junto ao crescimento da família a tecnologia foi mudando, e agora os filhos tinham muitos atrativos. TV, internet, videogame, por exemplo. E cada filho gostava mais de uma coisa. Um brincava muito com vídeo-game, o outro ficava navegando na internet, outro vendo TV. Tinha filho que não gostava disso, e preferia ficar lendo, ou então passeando. Os pais, que agora já não tinham tempo para ver os problemas dos filhos começavam a calcular o tempo gasto em cada uma dessas atividades, e acharam um absurdo o desperdício de tempo. Porém, eles esqueceram que todos os filhos continuavam a fazer suas lições de casa, estudando, indo bem na escola, ou então os que já trabalhavam, exercendo seu serviço com qualidade e comprometimento. E em função deste esquecimento eles tiveram que disciplinar os filhos, que agora estavam abusando de tudo e querendo prejudicar os próprios pais.

O que fizeram então: bloquearam a internet, TV, videogame, bicicleta, passeios, leitura; nos dias de semana durante a manhã e tarde, pois neste horário eles teriam que; ou ganhar dinheiro, ou então ficarem estudando para amanhã ganharem mais dinheiro.

Agora nenhum filho mais poderia se distrair em nenhuma atividade, todos tinham que estar sempre produzindo algo. Mesmo conversa entre eles não era bem vista, pois isso não estaria gerando nenhum benefício para a família.

Porém tinha filho que precisava da internet para fazer pesquisa para a escola, mas é claro que os pais não eram tão maus assim. Eles liberariam a internet para este filho, porém ele deveria provar aos pais a real necessidade de utilização, já que ele poderia utilizar para se distrair.

Agora você acha que os pais não deixavam em hipótese nenhuma os filhos conversarem? Claro que não, afinal, eles queriam o melhor para os filhos. No entanto os filhos precisariam comunicar tal intenção a eles para que os pais pudessem analisar e dizer se poderiam ou não conversar. Claro que essa decisão demorava também, pois como agora eles eram pessoas com muitos compromissos raramente eles ficavam em casa, então nos poucos momentos em que eles tinham tempo para os filhos eles verificavam isso.

Quando tomaram esta decisão eles se esqueceram de ver se os filhos deixavam de fazer seus afazeres, e mesmo que um ou outro abusava, como ocorria, preferiram adotar a inteligentíssima (imagino que deve ser, pois quase tudo mundo faz assim) política do nivelar por baixo e reduzir problemas de gerenciamento. Ao invés de adotarem uma política de dar direito aos filhos que faziam o correto uso do lazer e conversarem com os que, por hora ou outra, abusavam do lazer para descobrir o motivo pelo qual eles faziam isso, e em caso necessário, retirar momentaneamente este direito, o nivelamento por baixo economizou tempo deles, que agora não precisavam mais se dedicar aos filhos, já que estava tudo em regras claras e comuns.

Como eu sou um mero contador da estória desta família não sei como os filhos passaram a se sentir após esta ação.

E a torneira pingando...

Os pais, como conversaram com outros pais, perceberam que as pessoas são muito desonestas, e que se sentirem alguma oportunidade certamente aproveitarão, sem dó nem piedade. Os pais, agora avisados deste imenso perigo também tiraram toda a autonomia dos filhos. Agora qualquer decisão deveria ser comunicada a eles, e sem o aval dos pais nada mais poderia ser feito. Claro, imagine se os filhos pudessem tomar decisões, o que eles fariam? Certamente destruiriam a casa onde moram, acabariam com todo o estoque de alimentos e com toda a mobília. Então vigilância era necessária, e câmeras foram instaladas para que os filhos não fizessem nada de errado. Vigiar é preciso!

E apesar de tudo isso ainda tinham filhos que ousavam expor seus argumentos, seus pontos de vista, mostrar que as coisas não estavam boas. Que algo de diferente poderia ser feito. Em vão. A princípio os pais foram acometidos pela cegueira da multidão, da massificação, do certo por maioria. Nenhum argumento era sequer ouvido com seriedade. Então os pais começaram a ver estes filhos como ameaças ao seu poder (autoridade eles já não tinham faz tempo) e a se preocupar em o que fazer com estes filhos. Era inconcebível que pessoas geradas por elas tinham posturas diferentes, acreditavam em algo diferente, em algo que trouxesse novamente a felicidade que aquela família tinha há anos atrás, onde os filhos diziam aos quatro ventos como aquela família era fantástica e ele adorava fazer parte dela. E estes filhos sabiam que retornar a este nível de felicidade não implicaria em ser novamente pobre como antigamente, nem impediria a família de acumular mais riqueza, mas que ainda poderiam crescer sim, porém com desenvolvimento, com humanidade, com respeito.

Mas os pais já não acreditavam nisso. As outras famílias não faziam isso, então por que ser diferente? Por que querer fazer algo fora do padrão?

E os filhos agora ‘problemáticos’? O que fazer com eles? Expulsar os filhos de casa não era possível, então era preciso pensar em outra tática. E se ao invés de expulsar, criassem um clima que fizesse com que estes filhos tomassem a atitude de sair. Mas é claro, que sacada fantástica!!! Assim os pais não poderiam ser responsabilizados por isso, já que a decisão seria dos filhos. E assim fizeram, e vários filhos saíram de casa.

Como eu sou um mero contador da estória desta família não sei como os filhos passaram a se sentir após esta ação.

Opa, e a torneira pingando? O filho, cansado de falar, um dia aproveitando uma reforma que estava sendo feita na área de serviço tomou iniciativa. Pegou um dinheiro do pai e comprou uma nova torneira, que teve um pequeno custo, e ele mesmo instalou a nova torneira, cessando imediatamente aquele desperdício de água que perdurava por vários anos. O filho ficou muito contente com solução do problema. Finalmente aquele desperdício foi eliminado, e em pouco tempo o valor gasto na torneira seria economizado. E os pais? Perguntaram pro filho porque ele não foi avisado sobre esta ação, pois eles precisariam aprovar tal ato.

Como eu sou um mero contador da estória desta família não sei como o filho passou a se sentir após esta ação."

quinta-feira, 22 de novembro de 2007

Teimosia x Persistência

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Você é teimoso? Você é persistente? Ficou em dúvida? Bom, segundo o dicionário teimosia é “Obstinação, persistência exagerada” e persistência é “Continuar esforçando-se para alcançar (algo) ; INSISTIR; TEIMAR.”

Eu já não vejo diferença entre os termos, exceto pelo fato da análise sobre o resultado. Se o que uma pessoa se propôs a fazer der certo, depois de inúmeras tentativas então esta pessoa foi persistente, mas se o que ela se propôs a fazer der errado ela foi teimosa.

Quantas vezes não vemos pessoas falando ‘Nossa fulano, como você é teimoso, não está vendo que isso não dá certo!”? E isso enquanto o que ela tenta fazer não dá certo. Mas assim que ela consegue a mesma pessoa é capaz de dizer “Que legal fulano, você foi persistente e conseguiu!”.

Thomaz Alva Edison (1847 - 1931) tentou milhares de vezes antes de conseguir fazer a lâmpada ascender. Imaginem se ele tivesse dado ouvidos às inúmeras pessoas que o desmotivaram durante suas tentativas.

Em uma música dos Titãs (Palavras) tem a frase “...palavras não são más ... palavras não são boas...”. A bondade ou maldade não está na palavra em si, mas sim nas pessoas que as proferem. E é incrível como nós somos excepcionais para dizer palavras de desmotivação, de descrença, de desestímulo. Quantas coisas novas não teriam sido inventadas, ou inventadas antes, se as pessoas optassem por classificar as pessoas que buscam soluções inovadoras por persistentes ao invés de teimosas? Quantas pessoas não teriam se tornado pessoas mais confiantes, produzido mais, vivido com mais felicidade se nós adotássemos esta simples postura.

Vejo as pessoas estimulando muito as crianças, os bebês, mesmo quando eles ainda fazem tudo errado, e isso é extremamente positivo, pois isso os ajuda a vencerem seus desafios, a não desistirem, a progredirem, se desenvolverem, serem autoconfiantes. Mas vejo estas mesmas pessoas não fazendo isso com as outras pessoas, como se após as pessoas deixarem de serem crianças não precisem mais disso, e o que é pior, ao invés de não incentivarem mais, passam a criticar, desestimular.

Na sabedoria popular diz-se que ‘as palavras tem poder’. Não podemos interpretar isso ao pé da letra, pois palavras são mera junção de letras com significado para nós. Mas o que elas representam, e como nós absorvemos isso tem poder. Se uma pessoa escutar muitas vezes, de muitas pessoas que ela é incompetente, a menos que ela tenha uma confiança em si mesmo inabalável, isso a afetará, e talvez um dia ela comece a acreditar nisso, tornando-se aos poucos incompetente, até ela mesmo, um bom tempo depois 'chegar a conclusão' que as pessoas estavam certas, realmente não sou competente.

Este mundo precisa de pessoas mais teimosas / persistentes, com opiniões, valores, que vão a luta em prol do que crêem. E também precisa de menos pessoas tão preocupadas com a vida alheia.

segunda-feira, 19 de novembro de 2007

Síndrome de Chicó

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Quem se lembra da série exibida pela Rede Globo, que depois virou filme, “O auto da compadecida”? Provavelmente todos que viram se lembram, pois o texto é muito bem escrito e a estória bem tramada. E nesta estória tem dois personagens principais, o João Grilo, que é uma pessoa que usa a esperteza para sobreviver, e o Chicó, seu amigo covarde. E este Chicó tinha um bordão, no qual dizia “não sei, só sei que foi assim”.

E é por causa deste bordão que dei este nome ao meu artigo. O que classifico de Síndrome do Chicó é um mal que acomete muitas pessoas, que estão literalmente de passagem por este mundo, vendo as coisas acontecerem como meros espectadores de um teatro, e não como atores da vida.

Trabalhei em uma empresa onde eu questionava alguns procedimentos, os quais não os considerava corretos. Explicava meus motivos e o que ouvia era “Mas Carlos, é assim que funciona.”, e ponto final. Parece que ignoravam meus argumentos, independente se estavam corretos ou não, nem os analisavam, refletiam, e o consideravam para uma melhora, caso fosse possível. Simplesmente não era assim que aprenderam (ou foram doutrinados), e qualquer coisa fora disso era para ser descartada. Análise, reflexão, empatia, consideração? Nenhuma. Eram meros repetidores de ações designadas por outras pessoas.

Esse foi somente um exemplo que aconteceu comigo, mas será que você também não conhece alguém assim? Ou será que você (e eu também) não somos assim?

Somos bombardeados por uma sociedade a sermos seres não pensantes, sermos meros repetidores de padrões estabelecidos por não se sabe quem, onde não se sabe o motivo, onde não se sabe a origem. Pessoas compram produtos porque nos dizem que isso é o correto, andam na moda pois é isso que nos tornam felizes, agem todos iguais porque é isso que nos enturmam, dizem as mesmas coisas para serem ‘compreendidos’.

É uma mesmice embutida que torna todos verdadeiros robôs, só não sabemos quem nos programa. É tudo igual. E nessa massificação embutem que o diferente precisa ser destruído, pois ele é uma ameaça a nossa sociedade, nossa forma de agir, nossa forma de ‘pensar’, nosso estilo de vida.

E isso gera comentários do tipo “mas é assim que funciona” e ponto final, sem qualquer discussão ou chance de reflexão, afinal, as pessoas não são preparadas para pensar. Como disse um professor meu, “pensar dói”, e dói muito, por isso muitas pessoas optam pelo ópio da ignorância, e tentam destruir os ‘pensadores’ com desprezo, mas fazem isso por não suportarem não serem daquele jeito. Preferem o comodismo.

Claro que há muitas situações na vida que adotamos o piloto automático, e isso serve até como uma forma de nos pouparmos um pouco. Mas o que não podemos é, ao ouvir uma opinião diferente, ver uma ação sendo feita de modo diferente fechar os olhos, não refletirmos e continuarmos a agir do mesmo modo. Precisamos pensar, e depois tomarmos nossas próprias decisões. Se continuarmos a crer na mesma coisa não tem problema nenhum, o importante não é o mudar, mas sim analisar as outras visões. Mas temos que fazer as coisas pelo que nós acreditamos, refletimos, julgamos, analisamos. A ação tem que ser consciente, e não por convenção.

Ao invés de falarmos “não sei, só sei que foi assim”, que tal dizermos “não sei, só sei que está assim, mas analisarei para ver como poderá ser”?

Ãh

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Tem uma música do Gabriel O Pensador que expressa muito bem a mesmice da sociedade. Essa sociedade onde todos são iguais, pensam iguais, agem iguais, vestem-se iguais. Abaixo segue a letra.

Gabriel O Pensador - Ãh
Gabriel O Pensador/itaal Shur
Eu não sei quem inventou essa mania e nem sei o que
seria esse "ãh".
Eu só sei que eu acordei no outro dia e só ouvia todo
mundo dizer ãh.
Eu nem sabia que existia essa palavra ou esse nome ou
o que quer que seja ãh.
E de repente vi que toda a minha gente enfiou na sua
mente o tal do ãh.
Tranqüilamente fui lá na padaria e falei bom dia,
responderam ãh.
Comprei um pão e fui ver televisão, só que na
programação só tinha ãh.
Fui pro estádio assistir a um futebol e a torcida só
gritava: "ãh! ãh!"
Liguei o rádio pra ouvir os comentários e era
"ãh-ãh-ãh-ãh-ãh-ãh-ãh".
Cheguei em casa, o meu amigo me ligou, eu disse alô,
ele disse ãh.
Ele me falou duma festinha recheada de gatinha, eu
disse ah... hmm... Ãh!!
Cheguei na festa e realmente tava bom, mas o som...
Uma garota me deu mole e começou o bate-papo: "ah? ãh!
ãh..."
Fomos lá pra casa e aí ãh, perguntei se ela ãh, ela
veio e "ãh"...

Por isso eu digo "ãh!"
Everybody say "ãh!"
Se todo mundo fala "ãh!", eu também quero falar...
ãh...
Por isso eu digo "ãh!"
Vem dizer comigo: "ãh!"
Se todo mundo fala "ãh", então eu digo ãh... ah, sei
lá!

Fui pra escola e esqueci a minha cola, e na prova eu
respondia tudo ãh.
O professor me falou alguma coisa que eu não entendi
porque não era ãh.
Voltei pra casa meio ãh, e o guarda me pegou com uma
ãh, e falou que eu ia ãh.
"Peraí, seu guarda, eu posso explicar"
- "Então explica!"
- "É que... ãh..."
E o meu pai ficou sabendo e já veio me dizendo que eu
era muito ãh.
Eu disse "pai, ãh, pai, mas pai, ãh, pai..."
- "Cê tá me respondendo, meu filho?!"
- "Ô, pai, ãh!!"
Meu pai nunca me escuta e pra mostrar quem é que manda
ainda faz aquela cara meio ãh.
Eu resolvi fazer uma banda que é pra ver se alguém me
escuta! O nome dela é Ãh.
O nosso som é uma mistura de ãh com ãh, e a nossa
postura é ãh!
Acho que vai ser o maior sucesso, mas não sei se vai
ser bom fazer sucesso, que o sucesso é meio ãh.
Hoje eu já falei com um, ãh, jornalista, que na hora
da entrevista perguntou:
- "Porque 'Ãh'?"
- Ah... Por que 'Ãh'? Ah, Ãh por que ãh!
Se você não entendeu, sinto muito mas ãh...

Refrão

Tava tudo indo muito bem, porque eu só falava ãh,
escutava ãh e pensava ãh.
Tudo como manda o figurino, as meninas e os meninos,
todo mundo repetindo ãh.
Parecia muita hipocrisia, porque todo mundo repetia e
nem sabia o que era "ãh".
Tão fazendo a gente de robô, só não sei quem
programou.
Quando eu percebi eu disse: "ô-ôu!"
Foi aí que todo mundo olhou pra mim, só pra ver o quê
que eu ia dizer.
Foi aquele olhar assim bem ãh, de quem quer ouvir um
"ãh", só que aí em vez de "ãh" eu disse "Be"!
Depois dessa resposta muita gente deu as costas, e até
quem me adorava hoje fala que não gosta.
Eu até tentei compreender o "ãh", mas quando eu falei
do "Be" ninguém tentou me entender.
É porque pra eles é o "ãh", tem que ser o "ãh", pelo
jeito vai ser ãh a vida toda.
Se você quiser saber, depois do B já vem o C, e tem o
D e tem o E e com o F eu digo foi.

Por isso eu digo "ãh!"
Everybody say "ãh!"
Se todo mundo fala "ãh!", eu também quero falar "Be"!
Por isso eu digo "ãh!"
Vem dizer comigo: "ãh!"
Se todo mundo fala "ãh", então eu digo foi...
Por isso eu digo "ãh!"
Everybody say "ãh!"
Se todo mundo fala "ãh!", eu também quero falar "Be"!
Por isso eu digo "ãh!"
Vem dizer comigo: "ãh!"
Se todo mundo fala "ãh", então eu digo Foda-se.

quarta-feira, 7 de novembro de 2007

Radicalismo

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Já escutei algumas vezes em minha vida pessoas me dizerem que sou uma pessoa radical. Não foram poucas vezes, nem poucas pessoas. E então o que posso fazer é analisar a situação e ver se realmente fui radical ou não nas situações surgidas.
As pessoas comumente chamam de radical uma pessoa que tem uma postura firme, uma convicção, um valor, e em função da crença nisso continuam fiéis e convictas. Então as outras pessoas, não conseguindo fazer a pessoa a mudar de idéia, já pegam o rótulo de radical e a atribuem.

Tenho uma visão um pouco diferente dessas que expressei sobre radicalismo, e tentarei explicar com algumas situações.

Eu sempre reinvidiquei poder trabalhar de bermuda, por vários motivos. Estamos em um país tropical, onde o clima é normalmente quente. Não tem lógica usarmos terno pois o terno é uma roupa de frio utilizada na Europa. O meu trabalho é intelectual, e até onde sei uma calça ou camisa não me torna mais produtivo (na verdade o calor pode até agir contra isso). E com várias pessoas, quando falava que a minha vontade era poder trabalhar de bermuda imediatamente elas pegavam o rótulo de radical e pregavam em minha testa. Escutava coisas do tipo: "Carlos, você está querendo radicalizar. Trabalhar de bermuda? Onde já se viu?".
No entanto proponho a seguinte reflexão. Eu, em nenhum momento, me pus contrário a decisão de qualquer pessoa de trabalhar com calça e camisa, ou terno, ou bermuda, chinelo, nua, etc. Para mim qualquer pessoa poderia trabalhar do jeito que ela se sentisse melhor, do modo como ela ficaria feliz e mais produtiva. No entanto as outras pessoas é que não me deixavam vir trabalhar de bermuda. Então pergunto: quem é o radical? Quem é que está tendo uma postura inflexível?

O fato de todo mundo fazer de um jeito não torna este jeito certo, torna-o somente comum. E o fato de alguém crer em algo diferente não o torna chato ou radical, somente torna-o incomum.

Conversando esta semana com um amigo meu ele me deu um exemplo sobre este tema. Ele me disse que se em uma festa o traje obrigatório é terno, e uma pessoa convidada não vai pois é 'contra seu princípio' usar terno ela está tendo uma postura radical. Não tenho dúvidas de que muitos concordarão com esta análise. Então mudarei alguns idéias para propor-lhes uma reflexão.
Suponha que na festa, o obrigatório não seja o terno, mas sim tomar um comprimido de extasy. E a pessoa convidada não vai, pois isso também é contra os seus princípios. E nesse caso, a pessoa que foi convidada também foi radical? Se não foi, por que? Nos dois casos houve uma recusa do convidado em ir à festa.
Mas Carlos, no primeiro caso era somente um terno, e no segundo era o consumo de uma droga. Certo, e daí? Analiso que em dois casos a exigência era contrária aos valores do convidado. (Infelizmente muitas pessoas, para não serem radicais e fazerem parte da turma abrem mão dos seus valores no segundo caso)
Vamos analisar um pouco mais. O que pensam da pessoa quem convidou e colocou uma exigência? Isso sim é uma postura radical, pois se o convidado não satisfazer esta condição ele não poderá entrar na festa. Este não é o radical da estória?

Vejo como radical não a pessoa que defende uma postura sua, segue seus valores, seus princípios, mas sim a pessoa que quer que outras pessoas sigam os seus valores, seus princípios, suas idéias.
Voltando a bermuda, eu estaria sendo radical se exigisse que todos usassem bermuda, mesmo os que não gostam. Expressar uma idéia oposta e brigar por ela é algo extremamente válido, no entanto muitos medíocres preferem nos tachar de radicais, e assim 'eliminarem um problema', a olhar para si e verem quem realmente está sendo radical.