Sobre este blog

Este nome é facilmente interpretado como 'Mundo Idiota', o que não deixa de ser, visto que atualmente vivemos em um mundo do TER e pior, do PARECER TER / SER, enquanto o que devemos valorizar é o SER. Mas o nome tem outro motivo. Uma pessoa que defende sua pátria é chamado de patriota, numa analogia a pessoa que defende o mundo seria o MUNDIOTA.
 

sexta-feira, 23 de novembro de 2007

Parábola da família

"Era uma vez uma família pequena, porém muito feliz. Viviam com simplicidade, porém todos da família se curtiam, constituindo, além de uma família de fato, uma família por opção.

As pessoas podiam confiar umas nas outras, contar umas com as outras.

Com o tempo a família passou a crescer, e o casal teve mais filhos, os quais foram crescendo e aprendendo sobre a vida, tanto com os pais quanto com os irmãos e a sociedade.

E no começo desta família, um dos filhos notou que a torneira da área de serviço estava com problema e ficava pingando o tempo todo. Ele, mesmo pequeno e sem a devida formação dos pais, sabia que aquilo, apesar de pequeno, era constante, e em função disso geraria uma despesa muito grande, porém esta seria encoberta pelos outros gastos da água. Certamente ele avisou ao pai, porém o pai (com sua maior sabedoria) alegou que não era hora de resolver aquilo, pois tinham outros problemas para resolver. O filho então ficou quieto, porém ainda preocupado.

Os primeiros filhos foram crescendo e além de fazer os afazeres referentes à sua idade (estudar, ajudar os pais, etc) também gostavam de brincar, andar de bicicleta, jogar futebol, videogame, passear, ler. E por alguns anos essa era a vida desta feliz família. Os filhos adoravam os pais, estavam crescendo, aprendendo responsabilidade e também se socializando, se divertindo, aprendendo por outros meios, conhecendo novas crianças e aprendendo outras formas de se ver as coisas.

Mas como disse inicialmente, esta família foi crescendo. Filhos nasceram e os pais agora tinham vários filhos para cuidar, dar alimento, educação, carinho, atenção, dar duras, ser severo, enfim, as tarefas inerentes de pais responsáveis.

Como havia muitos filhos eles ficaram sem saber o que fazer, pois tinham pouco tempo para fazer tudo o que era necessário, então começaram a conversar com outros pais com situação semelhante para ver como eles resolviam este problema. Após conhecerem a forma que a maioria dos pais utilizava resolveram colocar em prática, sem perguntar aos filhos como eles se sentiriam com isso. Talvez por achar que eles, sendo mais experientes certamente estariam certos, e que crianças não devem ser ouvidas, afinal, são só crianças.

Então começaram as ações. Os pais sabiam que não seria possível conversar com todas as crianças, ver o problema de cada um, então para facilitar o próprio gerenciamento estabeleceram regras.

Era dever de um filho ir ao mercado fazer compras para ajudar aos pais, e eles faziam isso com tranqüilidade. Porém passou a ser de responsabilidade do filho que ia ao mercado fazer a previsão de gastos e pegar este dinheiro com os pais para efetuar a compra. Porém se o valor pego fosse inferior ao valor necessário para trazer a compra que a família necessitava o filho deveria pegar da sua mesada o dinheiro restante, e após retornar do mercado com todas as compras, deveria apresentar aos pais a nota fiscal com tudo o que foi comprado. Os pais, então, livres da responsabilidade de elaborar a lista passaram a verificar tudo o que foi comprado, para ver se os filhos não os estariam enganando comprando uma bala ou coisa assim. Estando tudo certo então eles avisariam o filho que o dinheiro da mesada que o filho utilizou seria devolvido em umas duas semanas, após os pais conseguirem se programar para retirarem o dinheiro do banco para tal ação.

Como eu sou um mero contador da estória desta família não sei como o filho passou a se sentir após esta ação.

Um dos filhos do casal, para ajudar no rendimento da família, passava muitos dias fora de casa vendendo balas, e para isso era necessário pegar condução para chegar até aos clientes. E ele sempre fez isso, buscando sempre o menor custo, pois isso traria a família um rendimento melhor. Os pais, sábios, aprenderam que reduzir custos aumenta o lucro, então vendo que as despesas com a condução eram consideráveis resolveu estipular um valor máximo ao filho, e caso ele passasse desse valor o excedente deveria sair de sua mesada. Isso independente se o filho estava fazendo o máximo de economia no transporte ou não, e também não levando em consideração se um custo maior no transporte não significava um ganho maior nas vendas. Simplesmente haveria um teto, e ponto final.

Como eu sou um mero contador da estória desta família não sei como o filho passou a se sentir após esta ação.

Outro filho, após completar a maioridade passou a fazer serviços para a mãe, sendo responsável por pegar e entregar os itens que a mãe precisava para o seu negócio. Juntamente com esta função ganhou a responsabilidade de cuidar do carro, abastecer, cuidar da manutenção, da conservação, ser prudente para não levar multas, enfim, tudo o que um motorista precisa fazer. Até aí tudo perfeito, pois como responsável que esta pessoa é isso é tudo característica inerente a sua função. Porém um dia ele perguntou para a mãe dele se por acaso ele sofresse um acidente por causa do trabalho, se a sua mãe arcaria com os custos, e qual não foi a sua surpresa ao saber que não, e que nem um seguro para protegê-lo durante o seu exercício a sua mãe pagaria. Se quisesse teria que ser do seu bolso.

Como eu sou um mero contador da estória desta família não sei como o filho passou a se sentir após esta ação.

Enquanto tudo isso ocorria, o filho ainda continuava falando ao pai sobre a torneira pingando. Mas agora a resposta já era diferente. O pai, já altamente instruído, pediu para o filho fazer um levantamento do custo para resolver este problema, verificar o ROI, definir a prioridade e colocar em uma linda planilha para que o pai um dia pudesse analisar isso e então definir quando a ação seria feita. Enquanto isso a torneira pingando....

Junto ao crescimento da família a tecnologia foi mudando, e agora os filhos tinham muitos atrativos. TV, internet, videogame, por exemplo. E cada filho gostava mais de uma coisa. Um brincava muito com vídeo-game, o outro ficava navegando na internet, outro vendo TV. Tinha filho que não gostava disso, e preferia ficar lendo, ou então passeando. Os pais, que agora já não tinham tempo para ver os problemas dos filhos começavam a calcular o tempo gasto em cada uma dessas atividades, e acharam um absurdo o desperdício de tempo. Porém, eles esqueceram que todos os filhos continuavam a fazer suas lições de casa, estudando, indo bem na escola, ou então os que já trabalhavam, exercendo seu serviço com qualidade e comprometimento. E em função deste esquecimento eles tiveram que disciplinar os filhos, que agora estavam abusando de tudo e querendo prejudicar os próprios pais.

O que fizeram então: bloquearam a internet, TV, videogame, bicicleta, passeios, leitura; nos dias de semana durante a manhã e tarde, pois neste horário eles teriam que; ou ganhar dinheiro, ou então ficarem estudando para amanhã ganharem mais dinheiro.

Agora nenhum filho mais poderia se distrair em nenhuma atividade, todos tinham que estar sempre produzindo algo. Mesmo conversa entre eles não era bem vista, pois isso não estaria gerando nenhum benefício para a família.

Porém tinha filho que precisava da internet para fazer pesquisa para a escola, mas é claro que os pais não eram tão maus assim. Eles liberariam a internet para este filho, porém ele deveria provar aos pais a real necessidade de utilização, já que ele poderia utilizar para se distrair.

Agora você acha que os pais não deixavam em hipótese nenhuma os filhos conversarem? Claro que não, afinal, eles queriam o melhor para os filhos. No entanto os filhos precisariam comunicar tal intenção a eles para que os pais pudessem analisar e dizer se poderiam ou não conversar. Claro que essa decisão demorava também, pois como agora eles eram pessoas com muitos compromissos raramente eles ficavam em casa, então nos poucos momentos em que eles tinham tempo para os filhos eles verificavam isso.

Quando tomaram esta decisão eles se esqueceram de ver se os filhos deixavam de fazer seus afazeres, e mesmo que um ou outro abusava, como ocorria, preferiram adotar a inteligentíssima (imagino que deve ser, pois quase tudo mundo faz assim) política do nivelar por baixo e reduzir problemas de gerenciamento. Ao invés de adotarem uma política de dar direito aos filhos que faziam o correto uso do lazer e conversarem com os que, por hora ou outra, abusavam do lazer para descobrir o motivo pelo qual eles faziam isso, e em caso necessário, retirar momentaneamente este direito, o nivelamento por baixo economizou tempo deles, que agora não precisavam mais se dedicar aos filhos, já que estava tudo em regras claras e comuns.

Como eu sou um mero contador da estória desta família não sei como os filhos passaram a se sentir após esta ação.

E a torneira pingando...

Os pais, como conversaram com outros pais, perceberam que as pessoas são muito desonestas, e que se sentirem alguma oportunidade certamente aproveitarão, sem dó nem piedade. Os pais, agora avisados deste imenso perigo também tiraram toda a autonomia dos filhos. Agora qualquer decisão deveria ser comunicada a eles, e sem o aval dos pais nada mais poderia ser feito. Claro, imagine se os filhos pudessem tomar decisões, o que eles fariam? Certamente destruiriam a casa onde moram, acabariam com todo o estoque de alimentos e com toda a mobília. Então vigilância era necessária, e câmeras foram instaladas para que os filhos não fizessem nada de errado. Vigiar é preciso!

E apesar de tudo isso ainda tinham filhos que ousavam expor seus argumentos, seus pontos de vista, mostrar que as coisas não estavam boas. Que algo de diferente poderia ser feito. Em vão. A princípio os pais foram acometidos pela cegueira da multidão, da massificação, do certo por maioria. Nenhum argumento era sequer ouvido com seriedade. Então os pais começaram a ver estes filhos como ameaças ao seu poder (autoridade eles já não tinham faz tempo) e a se preocupar em o que fazer com estes filhos. Era inconcebível que pessoas geradas por elas tinham posturas diferentes, acreditavam em algo diferente, em algo que trouxesse novamente a felicidade que aquela família tinha há anos atrás, onde os filhos diziam aos quatro ventos como aquela família era fantástica e ele adorava fazer parte dela. E estes filhos sabiam que retornar a este nível de felicidade não implicaria em ser novamente pobre como antigamente, nem impediria a família de acumular mais riqueza, mas que ainda poderiam crescer sim, porém com desenvolvimento, com humanidade, com respeito.

Mas os pais já não acreditavam nisso. As outras famílias não faziam isso, então por que ser diferente? Por que querer fazer algo fora do padrão?

E os filhos agora ‘problemáticos’? O que fazer com eles? Expulsar os filhos de casa não era possível, então era preciso pensar em outra tática. E se ao invés de expulsar, criassem um clima que fizesse com que estes filhos tomassem a atitude de sair. Mas é claro, que sacada fantástica!!! Assim os pais não poderiam ser responsabilizados por isso, já que a decisão seria dos filhos. E assim fizeram, e vários filhos saíram de casa.

Como eu sou um mero contador da estória desta família não sei como os filhos passaram a se sentir após esta ação.

Opa, e a torneira pingando? O filho, cansado de falar, um dia aproveitando uma reforma que estava sendo feita na área de serviço tomou iniciativa. Pegou um dinheiro do pai e comprou uma nova torneira, que teve um pequeno custo, e ele mesmo instalou a nova torneira, cessando imediatamente aquele desperdício de água que perdurava por vários anos. O filho ficou muito contente com solução do problema. Finalmente aquele desperdício foi eliminado, e em pouco tempo o valor gasto na torneira seria economizado. E os pais? Perguntaram pro filho porque ele não foi avisado sobre esta ação, pois eles precisariam aprovar tal ato.

Como eu sou um mero contador da estória desta família não sei como o filho passou a se sentir após esta ação."

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