Recentemente um companheiro de longa data partiu deste mundo, nos privando da sua companhia.
Este companheiro a que me refiro é, aos olhos de muitos, um mero gato, um animal irracional, que mia, pede comida, é ingrato e egoísta, mas aos meus olhos ele era bem mais que isso.
Concordo que era um animal, porém de irracional não tinha nada. Na verdade acho que o mais irracional era eu, que mais reclamava, pedia comida e era ingrato e egoísta era eu, e não ele.
Ao longo deste anos ele pôde me ensinar muito, mas muito mesmo. Foram inúmeros os ensinamentos que ele me pasou, e que puderam me tornar hoje uma pessoa melhor.
Aprendi com meu gato que produtos caros, de marca, que promovem status nada contribuiem para uma vida feliz e tranquila. Ele nunca teve nada disso, nunca utilizou os melhores produtos, nem saía na rua desfilando para os outros gatos, e nunca se aborreceu com isso, nem nunca reclamou de não ter nada além dele mesmo.
Aprendi que é possível ser feliz com rotina, sendo grato ao que se tem diariamente, mesmo que o que se tem seja sempre a mesma coisa.
Aprendi que quando se ama não é necessário aprisionar o amado, as portas e janelas podem ficar abertas e que mesmo assim se optará por continuar conosco, pelo simples fato de amar.
Aprendi que cada um tem suas manias, seus tiques, e é preciso aprender a respeitar e continuar amando mesmo assim.
Aprendi que cada pessoa pode querer ter seu momento de isolamento, de quietude, de solidão, e que isso não significa que deixou de nos amar, mas simplesmente é um direito da pessoa, e que quanto mais respeitado este direito mais amor gera.
Aprendi que se insultarmos as pessoas que amamos elas poderão até os ferir, instintivamente, e isso não quer dizer que deixou de nos amar.
Aprendi que amor não diminui com o distanciamento ou frequência, se algo diminui é paixão (= sofrimento), e não amor.
Aprendi que a inveja provoca alguns arranhões, antipatias (pois é, ele também tinha defeitos rs).
Aprendi que ser independente não significa não reconhecer os esforços dos outros, ou não amar ou não se preocupar com os outros, mas optar por se deliciar com sua própria presença.
Aprendi que se vive mais feliz se não se preocupa com os problemas dos outros (nunca vi meu gato resolver o problema de outro gato).
Foram muitas as coisas que aprendi, e olha que ele é o irracional da história.
Obrigado por todos estes ensinamentos, por todo este carinho e amor ao longo de todos estes anos (os arranhões eu dispenso rs).
Fique bem!