Comecou uma nova “guerra” entre estas duas emissoras de televisão. O ministério público fez uma denúncia contra Edir Macedo, a Globo veiculou e a Record entrou na briga na defesa.
Hoje pela madrugada acabei vendo parte do programa “Fala que eu te escuto”, que foi utilizado para ‘defender’ a Record e atacar a Globo. Prestei atenção aos comentários, as defesas feitas e vê-se claramente como é puramente passional, no mínimo. Obviamente não posso dizer que é manipulado, ou que são atores contratados, no entanto dá-se fortamente tal impressão.
O ‘pastor’ perguntava aos ouvintes qual a resposta que eles tinham para dar para a Rede Globo. E a resposta era que eles não mais veriam aquela emissora, que lá só tem degradação da família, só ensina coisa ruim. (Até onde eu sei o que a Rede Record faz é copiar tudo o que a Globo faz. Jornal Nacional x Jornal da Record, novelas x novelas, Big Brother x A Fazenda, Esporte Espetacular x Esporte Fantástico, Fantástico x Domingo Espetacular, a briga pelo direito de transmissão do futebol, olimpíadas….).
E os ‘depoimentos’ eram sempre o mesmo, acusando a Globo e defendendo a Record.
O ‘pastor’ até disse que mesmo que fosse verdade o que se está falando, e que a igreja estivesse roubando, como é bom este ladrão, afinal, quantas pessoas eles estão ajudando. Pára tudo, será que eu ouvi bem? Quer dizer que os fins justificam os meios? E que tipo de argumentação é esta? O fato de fazer bem a alguns faz com que eles passem a estar certos?
Utilizarei alguns exemplos para questionar tal argumento.
Imagine um testemunho ‘aleatório’ do namorado da neta do presidente do Senado Federal. Ele começa dizendo que o Senado é maravilhoso, é muito bom para as pessoas, pois antes de lá ele estava desempregado, com dívidas, sem um futuro, e que agora graças a um membro do Senado tem um bom emprego, já não tem dívidas, já tem uma boa casa, comprou empresas e é uma pessoa feliz e rica, e que viaja pro exterior frequentemente. De tudo o que escrevi, creio que o que somente não ocorreu foi o testemunho. E assim como ele, muitos outros apadrinhados dos senadores muitas outras pessoas também pode dar tal testemunho. E será que isso torna o Senado uma instituição séria e respeitável? Será que o fato de fazer bem a alguns (e pelas recentes descobertas tem muita gente) dá o direito de fazerem o que fazem?
E o tráfico de drogas, certamente muitas pessoas vivem no luxo, na riqueza, conseguiram pagar todas as suas dívidas e agora vivem em mansões, carros importados, viajam pro exterior. Muitas pessoas podem dar este testemunho, porém isso é bom?
Quero deixar claro que não estou comparando uma coisa a outra, mas somente dizendo que o argumento utilizado não possui valor algum. Alguém ser beneficiado por uma instituição não a torna santa ou perfeita, tampouco comprometida com o respeito, honestidade, integridade, valores.
Esta cruzada da Record contra a Globo parece-me um pouco com o que ocorreu com a Alemanha na década de 30. A Alemanha estava com uma grande crise financeira, inflação galopante. As pessoas não viam salvação até aparecer um messias que poderia tirar a Alemanha daquela situação. O messias as pessoas, resgatou a economia, tornou a indústria novamente ativa, diminuiu a inflação. Mas precisou encontrar um culpado para justificar a situação pela qual se encontrava o país, e a escolha foram os judeus.
Sabemos de quem estamos falando, e hoje certamente as pessoas dirão que ele foi uma maluco, que não estava com Deus no coração, que o que ele fez não tem comparação com o que está ocorrendo hoje. Mas se alguém que estava naquela situação, na miséria, sem comida, sem futuro, e que teve a vida modificada, ficou melhor, ganhou dinheiro, pôde cuidar da sua família se eles questionariam algo a respeito das posturas do líder. Sinceramente eu duvido. Tanto que quando ele disse que a culpa era dos judeos a população acreditou, afinal, as pessoas querem saber quem é o culpado pelas suas desgraças, limitações, seu destino (pena que não olham para si mesmas). Tanto acreditaram que promoveram o holocausto.
Hoje, mais de 60 anos passados, fica fácil de perceber que aquela postura não foi benéfica, ainda mais que não estamos envolvidos, mas e naquela época? E na nossa época atual, as pessoas que estão envolvidas com este embate, será que também não ficam passionais como os alemães da época? Afinal, alguém os tirou da depressão, das drogas, das dívidas, propiciaram a eles uma vida repleta de felicidade, dinheiro, posses, empresas (tudo isso é dito nos ‘testemunhos’ veiculados).
O que quero com este exemplo é mostrar que a passionalidade não permite que as pessoas vejam o que está ocorrendo com elas. Passionalidade é algo desprovido de razão.
Nos depoimentos vi as pessoas dizendo que depois que entraram para a Universal descobriram a verdade. Pergunto: que verdade? Verdade é um termo relativo, não existe verdade absoluta. Cada qual tem a sua verdade. Será então que quem não está na igreja vive na mentira? Será a vida de todos os outros cidadãos uma mentira, e somente dos membros uma verdade? A maior mentira já contada é aquela em que alguém se diz o dono / conhecedor da verdade.
Em outro depoimento uma mulher falou que a vida dela estava destruída em função da Rede Globo. Como assim? Como que uma emissora de TV pode destruir a vida de alguém? E se pode, por que não destruiu a minha? Afinal, eu vejo a Globo (e a Record, Bandeirantes, Rede TV, SBT, ….)
Eu vejo a postura de dizer que não mais verá a Globo como uma postura de criança mimada, que quando alguém diz algo que não gosta, faz birra, diz que não brinca mais e vai embora. Deus não prega o amor? Não diz que somos todos irmãos? Ou os irmãos são somente os da igreja, os outros não? Ou o amor é somente entre os da igreja, os aos outros cabe a indiferença?
Um outro depoimento que vi, uma moça disse que a família dela estava com dívidas de R$ 700 mil, e que depois que entrou pra igreja, a dívida, que era somente para uma pessoa, foi paga em poucos meses com o pai fazendo serviços ao credor. Fico tentanto, em vão, imaginar que serviços são estes que propiciam em poucos meses a quitação de uma dívida de R$ 700 mil. Infelizmente minha limitação impede-me de chegar a qualquer reposta.
O que quero neste texto não é defender uma ou outra emissora, até porque não ganho nada fazendo isso. Somente quero aproveitar o momento para propor uma reflexão às pessoas, dizer que determinados argumentos não possuem qualquer valor, não comprovam nada, não isentam ninguém. É sempre necessário olhar para os fatos, sem passionalidade, e tomar sempre as próprias decisões. Nós não vivemos sem decisões, porém quando abrimos mão de tomá-las alguém vem e toma pela gente, e acabamos vivendo a vida dita por outras pessoas. Quando não refletimos sobre as coisas, alguém reflete por nós.
Somente nós somos responsáveis por nossa vida, por nossos sucessos e fracassos, erros e acertos, coisas boas e coisas ruins. Ficar querendo arrumar bodes expiatórios e salvadores somente nos aprisiona, nos torna dependentes, espectadores da vida.
Devemos sempre buscar ser livres, sermos nós mesmos. E eu creio que as instituições religiosas deveriam ter por premissa este fundamento, o de libertar a mente das pessoas, de torná-las livres e reponsáveis por sua vida. Receio que algumas venham se esquecendo disso.
Pensem com suas próprias mentes, todo o tempo.