Esta semana ocorreu um grande terremoto na região central da Itália, vitimando aproximadamente 300 pessoas, desabrigando milhares e provocando um grande prejuízo financeiro e um incomensurável prejuízo histórico e arquitetônico.
Isso gerou uma grande repercussão na mídia, não somente a da Itália mas de todo o mundo. Centenas de pessoas foram enviadas lá para retratarem os enormes prejuízos.
E eu me pergunto se tal fato merece realmente tal repercussão. Claro que lastimo as vidas que foram perdidas, os sonhos que nunca serão realizados, os lugares históricos que nunca mais poderão ser admirados, mas penso se este terremoto é maior do que o que ocorre diariamente aqui neste nosso país.
Quantas pessoas morrem diariamente neste país, por motivos não naturais? Duvido que não seja muitas vezes mais do que ocorreu no terremoto. Quantas pessoas morrem em busca de atendimento médico? Quantas pessoas morrem por falta de comida? Quantas pessoas morrem devido a violência que assola este país? Quantas pessoas morrem no trânsito, devido ao desrespeito dos motoristas?
Certamente este número é muito, mas muito grande mesmo. E fico pensando no que gera estes problemas. Fico pensando nas corrupções que tiram milhões de reais do serviço público, não dando atendimento médico descente a população, deixando-a à própria sorte. Fico pensando na educação que não dão, gerando uma população imensa de incapazes, e que pela falta de condições e de preparo psicológico são “adotados” pelo crime, matando a torto e a direita, afinal, não possuem nada a perder. Fico pensando nos inúmeros miseráveis, que são renovados a cada geração para que continuem mantendo no poder aqueles que fazem de tudo para nada darem a eles, deixando morrer de fome e doenças facilmente tratadas há séculos. Fico pensando nos criminosos que são gerados motivados pelos “belos” exemplos da justiça, deixando em liberdade assassinos, corruptos.
O que falei é um pouco do que ocorre aqui diariamente, e que de tão corriqueiro nem nos importamos mais. São milhares de vidas indo embora diariamente, e o pior de tudo, por motivos que são planemente possíveis de serem prevenidos, ao contrário do terremoto.
As pessoas ficam desoladas com mortes provocadas por fenômenos incontroláveis, mas parecem não se importar pelas mortes provocadas por nós mesmos.
O acontecido na Itália certamente provocará em muitas pessoas reflexões sobre a vida, sobre seus modos, sobre como podem fazer para viver melhor. Isso é ótimo, mas será que não podemos promover esta mesma reflexão pelas mortes onde nós mesmos somos os responsáveis? Será que não podemos ficar tão consternados com tudo o que ocorre cotidianamente a ponto de mudarmos isso, de exigirmos dos nossos “representantes” a seriedade necessária para melhorar a vida da população?
Que as pessoas tomem ciência do nosso terremoto diário, e passem a fazer o que está ao seu alcance para evitar, pois sobre este, certamente temos pleno domínio.