Mais uma tragédia aconteceu neste país. Lamento não o fato de ser uma tragédia, mas o fato de ser mais uma tragédia, assim como o fato de não ser a última, assim como o fato de não mudar nada a realidade deste país, para que outras não ocorram. Esta tragédia somente serviu para que as TVs aumentassem a audiência, e para que especialistas em diversas áreas façam comentários a respeito, mesmo tendo somente como ‘informação’ hipóteses a respeito.
Mas não é sobre violência, namoro adolescente, imaturidade, ciúmes, passionalidade ou mídia que quero falar. Quero falar sobre as críticas que estão sendo feitas. A imprensa tem questionado ferozmente os policiais que comandaram a operação.
Claro que se eu for analisar pelo desfecho o pensamento rápido seria que a operação foi um fracasso, mas fazer isso seria leviano e precipitado. Esquecem que se tratava de uma situação altamente de risco, onde qualquer atitude poderia provocar a morte das pessoas. Na TV, vejo pessoas criticando a demora da polícia em agir, criticando o fato da adolescente ter voltado a cena do crime, criticando o fato de atiradores de elite não terem atirado no rapaz nas inúmeras oportunidade que tiveram, criticando o fato dos policiais que invadiram usarem armas não letais.
Será que esse povo não tem o que fazer?
Vamos refletir sobre cada um dos questionamentos que fiz.
1. “os policiais demoraram demais”
Sim, foram 100 horas de seqüestro. Mas e se a polícia tivesse invadido e o desfecho também fosse trágico? Será que estes seres desocupados não criticariam a ação da polícia, que não deram o tempo necessário para que o seqüestrador cansasse e tudo acabasse pacificamente?
2. “a volta da adolescente”
Pelo que ouvi do comandante, a mãe da adolescente havia concordado com a possibilidade dela conversar, sem voltar ao apartamento, e foi isso o acordado. E isso foi feito, porém parece que ela resolveu voltar. Depois ouvi a mãe dizendo que não havia autorizado nada. Mas independente da autorização, e se nessa volta ela conseguisse convencer o seqüestrador a terminar, teria sido um golpe de mestre da polícia?
3. “atiradores de elite não terem agido”
Pelo que li e vi, durante o seqüestro houve ao menos 5 possibilidades de atiradores de elite terem matado o seqüestrador. Agora, com a tragédia já ocorrida, o pessoal acha que deveriam ter feito isso. Mas se essa atitude fosse tomada, contra um jovem de 22 anos, que nunca havia tido passagem pela polícia, e que tinha seqüestrado por motivo passional, não haveria críticas?
4. “armas não letais”
Imagina, invadirem um cativeiro com armas não letais, que perigo!!! Onde já se viu isso? Mas e se a polícia tivesse invadido com armas letais e na troca de tiros algum tiro disparado pela polícia atingisse algum refém, não haveria críticas?
Não posso afirmar quais seriam as críticas, mas posso afirmar que viriam. Então fico pensando, qual o papel da imprensa? É divulgar informações ou ficar falando abobrinha para preencher a grade de programação e aumentar seu IBOPE?
Se não tem nada de útil a falar, que calem a boca então. Ainda mais quando as críticas não são construtivas, mas sim somente para encher lingüiça.
Ah, mas deu errado, veja só o que ocorreu. Então que tal, ao invés de criticar, sem ter o menor conhecimento das dificuldades, estas pessoas não mudarem de profissão, e darem a cara a tapa para decidir como agir em situações como essa?
4 comentários:
A violência hoje está banalizada e nos acontecimentos como o da adolescente Eloá - em vez de darem um tratamento mais sério..partem para o sensacionalismo em busca de ibope.Uma pena...uma vida sendo barbarizada e rendendo pontos para alguns canais de TV. Compartilho de sua opinião.
Estão fazendo desse caso o que fizeram com o caso Nardoni e com o da Suzane que matou os pais. A mídia adora fazer alarde sobre esses acontecimentos para aumentar o IBOPE. Se depender de mim só diminui, pois essas reportagens repetitivas e oportunistas só enchem o saco.
Beijos.
Bem que você falou, fui ler o seu post agora e a sua opinião e bem parecida com a minha! Mas é isso aí... o problema é que por mais que não pareça, somos minoria.
bjuu
Então, meu amigo. É aquilo que falei, exaltada, como você diz: a mídia quer notícia, porque isso dá ibope e o que dá ibope dá anúncio. E com anúncio a roda gira. Se anúncio, não tem imprensa, nem livre nem coisa nenhuma. O que não tira a responsabilidade de um jornalismo decente. Mas, no caso das críticas, acho que é porque estas casos todos sempre mexem demais com a gente e com nosso imaginário. E criticar é um modo de purgar.
abração
maris
Postar um comentário