Atualmente é muito visto empresas ostentando em propagandas que são possuidoras de certificados ISO, assim como muitas pessoas correm atrás de cursos de MBA, fazendo questão de colocarem em destaque em seus currículos e nas entrevistas de emprego.
Para a população tanto o ISO quanto o MBA são “garantias” que os produtos e as pessoas possuem qualidade, o que é bem visto e certamente podem dar garantias de maior qualidade ao consumidor e maiores salários. Concordo com a segunda parte, e receio que a primeira infelizmente não exista.
Vamos a algumas considerações.
Vejo hoje produtos com qualidade fantástica (como dizem os fabricantes), o melhor som, a melhor imagem, o melhor acabamento, o melhor atendimento ao usuário, e por aí vai, mas acho incrível como algo tão bom em pouco tempo dá problema, apresenta defeitos. Quem de vocês já comprou algo eletrônico e teve problema em pouco tempo? Creio que muitos, então fico tentando entender como algo produzido recentemente pode gerar problemas tão rápido. Ainda mais que a empresa possui certificados de garantia para todas as etapas de confecção do produto.
Também não entendo porque as empresas oferecem somente 1 ano de garantia aos produtos (exigência da lei) e não garantia eterna, afinal, o produto é bom, é feito sob o ISO. Se uma coisa é boa, pode dar garantia eterna, afinal, ela não dará problema, e se der, será um índice muito pequeno, que em nada impactará a indústria. Os mais novos nem devem conhecer máquina de costura, mas antigamente este era um item muito importante para as famílias (era presente de casamento dos bons) e o fabricante dava garantia eterna. Ele garantia o produto que ele fazia. Engraçado, nesta mesma época não existia ISO, certificados de garantia de qualidade e estas coisaradas toda.
E os armários de hoje em dia, já tentaram montá-los, desmontá-los e depois tentar montar em outro lugar? Aos que tiveram esta necessidade creio que devem ter percebido que o mesmo jamais voltará ao “bom” estado original, alinhamento passará a ser uma coisa rara. Quando criança meus pais mandaram fazer um armário para o meu quarto, em um marceneiro, marceneiro este que certamente nunca havia ouvido falar em qualquer coisa de ISO ou algo similar da época. Fez o armário, que ficou perfeito e foi utilizado por vários anos. Depois me mudei de cidade e tivemos que “mudar” o armário também. Ele foi inteiramente desmontado e remontado, e pasmem, ficou perfeito novamente. E não foi só isso, este mesmo armário foi desmontado outra vez, passou por algumas viagens e foi remontado pela terceira vez, e continua lá, firme e forte. Engraçado que um armário feito por uma pessoa sem certificação nenhuma foi montado 3 vezes e continua firme, enquanto que os novos armários, feitos sob normas rígidas de qualidade quase desmontam sozinhos.
Há uma frase que considero bem interessante, e creio ser válida uma análise: “Amadores construíram a Arca de Noé e profissionais o Titanic”.
Podemos analisar também a questão das casas de hoje em dia. É incrível como é difícil achar uma casa / apartamento com paredes retas, com a inclinação do piso para o ralo e com os revestimentos assentados corretamente, com o menor desperdício e visualmente mais agradável. Parece coisa simples, mas hoje em dia não se fazem mais isso, e olha que temos inúmeros recursos. Enquanto que o pessoal do Egito antigo faziam a 4 mil anos atrás pirâmides com blocos imensos de pedra onde nada passava entre uma pedra e a outra, e tudo isso sem os recursos atuais.
E os MBAs da vida? Quantas pessoas pagando fortunas para poderem fazer este curso, para aprenderem as melhores técnicas de administração, gerenciamento, economia e mais um montão de coisas. E eu pergunto pra quê?
Minha pergunta é séria, pois vejo por aí pessoas altamente “capacitadas” fazendo um monte de besteiras, algumas até maiores do que quem não tem os cursos. Mas há uma diferença entre a besteira de um profissional “qualificado” e de um profissional “amador”. Quando quem erra é o profissional “qualificado” fica fácil dizer que o problema era muito complexo e que não seria possível resolver, enquanto que quando quem erra é o profissional “amador” (fazendo exatamente a mesma atitude do outro e tendo tomado a atitude pelos mesmos motivos) a culpa é do despreparo dele perante os problemas atuais do mundo, do seu amadorismo. E há outra diferença. O profissional “qualificado” recebe o dobro do profissional “amador” para cometer o mesmo erro, porém o comete com grife, com aval. Conclusão, a empresa paga mais caro para cometer os mesmos erros.
O curso tem servido para criar castas somente. Há os profissionais superiores e os inferiores, mesmo que ambos saibam exatamente a mesma coisa, ou mesmo que os “inferiores” saibam bem mais que os superiores, porém como não pertencem a casta superior devem sempre receber os salários menores.
Pensem se vocês já conheceram pessoas que pertencem a estes dois grupos. O primeiro com o curso, porém menos competente, e o segundo sem o curso, porém mais competente. Caso conheçam, quem ganhava mais? Será que é o mais competente?
Antes que pensem que não vejo vantagem alguma no curso deixe-me dizer. Qualquer informação, instrução, leitura, debate, conversa torna a pessoa mais capacitada para lidar com os problemas da empresa, das pessoas, os seus. E o curso é um dos modos de se desenvolver, sem dúvida. Porém conversas com pessoas da área, pensamentos a respeito dos problemas, autodidatismo também são formas válidas, com grandes resultados, porém como estes não geram o “papel garantidor” da “qualidade” não são valorizados, deixando somente os cursos com tais status. E as pessoas sabendo que o status se adquire com um simples pedaço de papel certamente investirão dinheiro nisso, abrindo mão do aprendizado e focando o papel.
O mundo possuía mais qualidade antes dos certificados de qualidade. Os produtos eram melhores, as relações pessoais eram melhores, os funcionários eram melhores. Aí inventaram o comprovante de qualidade, que matou a qualidade porém com toda a certificação necessária.