Pois é, mais uma copa passou e ficamos nas quartas-de-final. Não que isso seja um problema (afinal, 31 seleções necessariamente precisam perder a copa), assim como também não vejo o Dunga ou Felipe Melo como os culpados pela derrota (afinal, se o Brasil ganhasse também não os veria como os responsáveis pela vitória).
Fiquei chateado, sem dúvida, porém fiquei pensando para que time o Brasil perder. Visualmente foi para um time de cor laranja, que tem tradição em copas (embora nunca tenham vencido uma) e bons jogadores, porém creio que não perdemos para eles. Perdemos para nós mesmos, nossa instabilidade emocional.
O futebol depende muito da habilidade nata de uma pessoa (não adianta eu ficar treinando dias a fio que não chegarei perto do Ronaldinho Gaúcho, por exemplo), de muito esforço, dedicação, treino, repetição. Isto dará a um profissional do futebol uma grande habilidade, grande capacidade de resolver os problemas que surgem durante uma partida. Porém tudo isto não basta, há outro componente muito importante e que neste jogo foi o que - em minha modesta opinião - causou a derrota do Brasil. O fator psicológico.
O Brasil, após tomar o primeiro gol, se desestabilizou totalmente. Disse totalmente pois o Brasil já estava desestabilizado, confundindo discordâncias com o juiz em gritos e gesticulações exacerbadas, xingamentos, entradas mais duras nos demais jogadores, sem nenhuma necessidade. Porém com o gol o Brasil perdeu todo o seu emocional. E aí não tem pessoa que consiga fazer alguma coisa.
Esta perda da estabilidade emocional ocorreu com nossa seleção masculina de futebol, e para nós, externos a situação, fica muito fácil ver isso. Mas e quanto a nós? E quando perdemos a estabilidade emocional, conseguimos ver que estamos sem ela? Conseguimos nos dar conta que estamos tomando várias atitudes erradas, ou no mínimo atitudes que gerarão consequências desnecessárias? Conseguimos parar para respirar para voltar a estabilidade?
Creio que seja muito difícil. Disse difícil não por ser algo quase impossível de ser alcançado, mas porque nossa cultura latina é de sangue quente, "aprendemos" deste modo, vemos todos agindo assim o tempo todo. Rapidinho vemos o sangue subindo e a pessoa explodindo. Então de certo modo aprendemos via osmose, basicamente "nascemos" deste modo.
É em função disso que disse ser difícil, a dificuldade está em aceitar que tudo o que aprendemos talvez não seja o melhor para uma vida mais saudável, equilibrada, estável. Talvez seja difícil jogar anos e anos de aprendizado no lixo, ou aceitar que por tanto anos aceitamos aprender algo (e aprendemos muito bem) e que estávamos errados. Admitir isso talvez seja a maior dificuldade. Como podemos ter, por tanto tempo, optado por algo que não ajuda? Como podemos ter sido tão "tolos"?
Posso dizer que não fomos tolos, pois o contexto onde estamos sem dúvida nos influencia, e quando somos pequenos não adquirimos ainda o discernimento o suficiente para saber se tal atitude é boa ou não, se possui consequências, quais consequência. Então vamos imitando. Tomem por base as crianças, que imitam tudo o que veem. O que é preciso quebrar é esta idéia que uma vez aprendido não podemos desaprender, ou reaprender. O ser humano é fantástico, e consegue o que ele quer e se predispor a fazer. Ao se predispor a tentar não perder a estabilidade emocional, certamente ele conseguirá. Não será rapidamente, assim como não foi rapidamente aprender o jeito "latino". Isso demandará treino, dedicação, empenho, do mesmo modo que os jogadores fazer as jogadas.
E ter estabilidade emocional não significa ser insensível, ser uma pessoa fria que não se importa com os demais. Para mim, ter estabilidade emocional significa reconhecer estes sentimentos, saber administra-los de modo que não lhe prejudique nem aos demais. Ter raiva é um sentimento normal do ser humano, no entanto é possível administrar este sentimento, saber que ele não ajudará a resolver o problema. E ao invés de usar a energia desta raiva contra outra pessoa, podemos utilizar a energia desta raiva como um impulso para superar a dificuldade, a adversidade.
Pensem se não é melhor agirem sempre emocionalmente estáveis. Quantos crimes passionais são cometidos? Quantas compras são feitas pela felicidade de um novo emprego? Quantas palavras são proferidas quando alguém nos ofende?
Quase todas as decisões tomadas sobre o efeito da emoção darão errado. Faremos mais ou menos do que deveríamos fazer. Diremos mais ou menos do que precisaríamos dizer.
Um comentário:
Sei lá, Carlos, Dunga fechou com esses jogadores desde o início. Alguns que estavam no banco de reservas nos clubes de origem. Ele simplesmente não quis levar os melhores... Deu no que deu...
À propósito, habilite os botões de compartilhamento (uma novidade no Blogger), assim fica fácil de enviar seus posts para o Twitter e para o Facebook! Vá nos elementos de páginas e opções de postagem.
Um abraço!
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