“Olá, meu nome é ....., bem, acho que não é importante o meu nome, mas o que sou e faço. Sou um jovem de 21 anos, o futuro deste país.
Sou um jovem normal desta sociedade, criado dentro dos atuais princípios e valores amplamente difundidos pela mídia, é claro. Essas coisas de valores tradicionais, familiares é coisa do passado, e quem vive do passado é museu. Eu sou moderno, atual, pra frentex. É incrível como um aparelhinho pode educar tão bem uma pessoa. Você quer saber como se comportar numa festa, veja a TV. Tem muitos exemplos que mostram como os jovens de hoje em dia devem se comportar. E eu como uma pessoa respeitadora desta entidade faço tudo direitinho, não devo desobedecer quem me ensina valores. E hoje é melhor ainda do que antes, pois agora tenho a internet onde posso aprender tudo, sem nenhum tipo de opinião chata e restringente dos parentes. Vejo o mundo como ele é, sem censura. Posso fazer amigos pelo mundo inteiro, expor minha vida e ver a vida de todo mundo. Consigo rapidamente saber o que meus novos amigos gostam, onde freqüentam, o que odeiam. Muito melhor do que antigamente, onde para isso era necessário contato, muitos encontros, conversas. A facilidade atual é realmente maravilhosa.
Meus pais também são muuuuuuuuuuito legais, sou um felizardo por ter pais assim. Nunca briguei com eles, já que sempre me apoiaram. Até mesmo quando todas as outras pessoas me diziam que o que eu havia feito era errado, que havia prejudicado os outros, meus pais me apoiaram. Nunca deixaram que eu sofresse por causa daquele bando de desocupados que somente querem estragar o prazer dos outros. Sei até que além do sim existe a palavra não, mas meus pais nunca usaram contra mim. Acho que somente pais que não gostam dos próprios filhos é que dizem não. Imagina, negar coisas a um filho? Deve ser algo de gente muito má. Mas meus pais não faziam somente isso por mim. Eles pensavam muito no meu futuro, certamente. Para isso trabalhavam muito mesmo, ficando até altas horas nos empregos, viajando semanas inteiras. Feliz o filho que não tem pai vagabundo. E eles faziam isso para que eu pudesse me preparar para o futuro. Passava o dia inteiro em escola e cursos, de tudo quanto é coisa, afinal, o mundo é globalizado, a competição é com pessoas do mundo inteiro e somente os fortes sobreviverão, e meus pais não queriam que eu fosse um fracassado na vida. Mas eu tinha super pais. Em todo retorno de viagem eu ganhava presentes, muitos presentes. Viviam me enchendo de presentes. Um mais caro que o outro. O preço era diretamente proporcional ao tempo que ficavam longe de mim.
E quando passei no vestibular – de uma universidade de pouco nome, particular, mas isso não vem ao caso – eles me deram um carro importado. Fiquei tão feliz!!!! Só achei tonta a postura de um conhecido meu que passou na USP e não ganhou nada dos seus pais, a não ser um abraço. E o pior é que ele estava muito feliz. Tem gente que se contenta com pouco mesmo, nunca serão nada na vida. Bom, mas deixa aquele tonto de lado.
E claro que eu já sabia dirigir, comecei aos 14 anos. Sou um cara muito precoce, não sou bobão como os outros que precisam completar 18 anos. Já peguei o meu carro e fui pela cidade exibi-lo. Meti o som no último, claro, afinal, para que ter som somente para mim? O legal é que todos possam perceber que eu tenho som no carro. Acelerei tudo o que pude, fazendo o motor urrar no máximo. É muito bom sentir essa sensação de poder. A gente fica mais forte ainda. Teve uns tontos que reclamaram do barulho, mas não dou bola para pessoas invejosas, que nunca terão condições de ter um carro como o meu.
Quando comecei a faculdade começaram as aulas chatas, insuportáveis. Não tenho paciência para ficar escutando umas pessoas que ganham uma merreca falar sobre um monte de besteiras que não me interessam. Da faculdade me interessa o diploma, somente isso. Então como muitos dos meus amigos também não assistiam às aulas, íamos a bares – que por coincidência do destino ficavam bem à frente da universidade – e bebíamos muita cerveja. Falávamos sobre coisas realmente interessantes, como ‘como pegar mulher’, ‘quem saiu com Fulana’, ‘quantas consegue tomar sem cair’, ‘carros’ e outras coisas dos gêneros.
E em pouco tempo comecei a freqüentar umas festas muito legais, as rave’s. Não eram estas festinhas chatas que acabavam em poucas horas, essas duravam até dias. Muita diversão. A música era demais. A variação de sons devia chegar a 2 ou 3 no máximo. E para aproveitar toda a festa certamente era necessário uns aditivos. Tinham os mais fraquinhos – energéticos – e os bons mesmo, que além de deixar a gente ligadão deixava a festa melhor ainda, tudo ficava mais divertido, as pessoas mais legais. Uma diversão total!!!!
É tão bom ficar alienado deste mundo, daquelas pessoas chatas que ficam falando que devemos fazer tal coisa, não devemos fazer. É impressionante como tem pessoas chatas neste mundo, que não gostam de diversão e por causa disso tentam tirar a diversão dos outros.
E como o legal desta vida é ter histórias para contar no futuro, posso dizer com orgulho que já acumulei muitas delas.
Como das vezes que fui preso por dirigir embriagado e causar acidente; ou então preso por meter a mão na cara de um babaca que não me deixou furar a fila, e ao invés de resolver no braço queria argumentar – eita coisa de fraco; ou então das inúmeras minas que embriaguei para dar um créu – 4 tiveram filhos meus, mas aí pago a pensão e tudo fica resolvido; ou então das inúmeras internações em clinicas de recuperação; ou dos subornos que dei há muitas pessoas para que eu pudesse ter o tratamento privilegiado que mereço. É muito história, e olha que só tenho 21 anos.
Enfim, este é um pequeno resumo de minha vida, e sei que ainda tenho muitos anos de vida onde poderei contribuir para o crescimento deste país.”
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